“Lençóis: A Cidade Que Mudou Meus Planos”
O que falar de um lugar que, em um piscar de olhos, me deu uma vivência que eu jamais imaginei? Era por volta de 15 de Março quando cheguei em Lençóis, na Chapada Diamantina, eu nem sonhava com tudo que viveria ali.
O plano era simples: passar três meses, curtir o São João e, no início de julho, pegar a estrada novamente. Meu destino seria o sudeste, com uma rota que passaria por Tocantins e Minas Gerais. Mas os planos mudaram, e Lençóis me mostrou que a vida tem seus próprios caminhos.
A chegada em Lençóis
Cheguei no município de Lençóis. Já estava com uma ideia em mente, ficar uma semana na cidade. O plano era conhecer a cidade e, em seguida, partir para o Vale do Capão em busca de trekking e aventuras.
Naquela tarde, após pedalar cerca de 15 km, vi um rio. Parei para me banhar, mas hesitei. A água escura, cor de coca-cola, me deu medo. Não sabia nadar direito, mas entrei assim mesmo, molhei as pernas e sair, com um sentimento de que seria mais corajoso na próxima. Depois, almocei uma tapioca com queijo e mortadela (que comprei no mercado de uma cidadezinha que eu havia passado mais cedo. Descansei e continuei pedalando até o centro da cidade de lençóis-ba
Duas horas depois que sair do Rio banho, no começo da cidade, cheguei. Cansado, doente, mas cheio de vontade de viver, vi aquela cidade linda pela primeira vez. Parecia cena de filme. Pedras de paralelepípedo, uma ponte que era a única entrada para veículos e, ao fundo, montanhas, rios e a natureza abundante, tudo era incrível, que emoção.
Aquele lugar era mágico, hoje eu sei.
Um novo Dinho na estrada
Naquela cidade chega o Dinho cicloviajante que partiu do Recife há três meses. Já tinha vivido um pouco dessa vida de viajante e sabia o que tinha que fazer. Olhei ao redor com curiosidade, orgulho e admiração por mim mesmo. Estava a cerca de 1500 km do ponto de partida. Pensei, preciso me desenrolar aqui.
Lembro que naquele momento eu estava muito mal. Havia perdido três quilos. Tinha pedalado por dias doente, com febre, mal estar no estomago e um resfriado que não curava, precisava desesperadamente de descanso.
Foram tanto desafios para chegar naquele lugar. Os planos mudaram um milhão de vezes. Ouvir tantas historias sobre a Chapada Diamantina, e lá estava eu, o Dinho com 26 anos que nunca tinha feito uma trilha selvagem, independente do seu estilo de vida.
No fundo eu sabia que aquele lugar me mudaria.
Procurando um lugar para ficar e Encontros Inesquecíveis
Andei pelas ladeiras da cidade com minha bicicleta de 70 kg, empurrando ela pra cima e pra baixo, à procura de um voluntariado. As ladeiras de lençois-ba pareciam muito com as ladeiras da cidade de Olinda-pe era bela e brutal pra quem já estava cansado e com uma bike pesadissima. Continuei a procurar e depois de bater em umas 5 portas de hostel eu não encontrei nada. No máximo um camping que custava 30 reais a diária, pra mim que viaja a baixo custo isso não era uma opção.
Quando tudo parecia perdido, lembrei do plano B: os campings selvagens. Ouvi falar de um coreto onde se podia armar a barraca e descansar(dica de outro cicloviajante). Era seguro, diziam, ninguém mexeria nas coisas. O ponto era armar a barraca a noite e desarmar logo pela manhã, pra não causar um “má imagem” para cidade. Ok, era fácil.
Ao caminha sentido o coreto, em frente ao Banco do brasil encontro um Mochileiro o David, viajando a uns anos, tinha minha idade e já havia feito muitos trekking na Chapada Diamantina. Pedi pra ele tirar uma foto minha ali, e essa foto marca um pouco minha chegada na Chapada.
A noite chegou e depois de uma longa conversa sobre as magia e aventuras que aquele lugar poderia proporcionar fomos até o primeiro poço do parque da Muritiba para se banhar, nosso, eu precisava muito daquele banho. Lá eu conheci outra figura enigmática da Chapada diamantina, era o Marcelinho, acredito que todos que vai ou já foi a lençóis acaba cruzando com essa figura. Trocamos uma ideia rápida e logo fui me organizar no coreto.
Dentre todas as habilidade que desenvolvi na estrada a minha mais poderosa e a que mais confio é a minha intuição. Estava com receio de compartilhar a localização do lugar onde iria passar a noite, para o David, mesmo sem entender o motivo, ele parecia muito de boa, mas aquela cidade era diferente, as pessoas escondia algo, eu sentia.
Pensei um pouco e acabei compartilhando o lugar onde iria passar a noite, pois até o momento o David não tinha um lugar pra ficar. Ele esperava a resposta de um guia, esse guia iria ajudar ele naquela noite, pois no dia seguinte eles iriam para uma trilha de 7 dias. O guia o ligou.
Antes do David ir embora, fomos ate o coreto, compramos alguns ingredientes gastronômicos e cozinhamos um incrível cuscuz recheado com legumes, batata e queijo, nossa a gente repassou um pacote de cuscuz. Em seguida o David partiu pra sua jornada e eu já tinha um grande ideia do que fazer ali pra frente…
Coloquei meu isolante térmico no chão, joguei um colchão inflável por cima, e ali passei minha primeira noite em lençóis-ba, Chapada Diamantina.